Powered By Blogger

terça-feira, 31 de agosto de 2010

O Operário e o Sacerdote

Houve um tempo em que os professores eram respeitados, que suas presenças e opiniões eram a certeza de credibilidade, que seus comentários eram considerados e tinham grande peso. Eram formadores de opinião.


Os professores eram figuras que poderiam ser comparadas aos sacerdotes, pois buscavam a verdade e a justiça, mas tinham o diferencial de procurar essa verdade através das ciências. Sua consciência era plena de que estavam construindo os alicerces do futuro da sociedade, os futuros cidadãos.

Atualmente, a docência tem uma preocupação mais imediata e materialista, fruto de novos tempos, onde o “ter” está suplantando o “ser” de forma inegável, onde passar em um exame é mais importante do que ter a capacidade e os conhecimentos necessários para acompanhar um curso. Logo, o magistério fica enquadrado como uma atividade profissional ordinária, sendo é possível exigir deste profissional, o professor, metas de produtividade, como quantos alunos passaram no vestibular, em quantos concursos foram aprovados, como se fosse um operário em uma linha de montagem. O aluno passaria por cada professor e receberia os conhecimentos básicos necessários para sua inserção no mercado de trabalho ou nas provas classificatórias. E como operário de chão de fábrica, esse professor não tem o domínio, ou mesmo conhecimento das outras atividades desta linha de montagem, alienando-se cada vez mais, ficando assim à mercê dos administradores desta “fábrica”. Para alguns, este modelo fordista seria ideal, pois teríamos professores alienados e alunos que seriam apenas reprodutores de técnicas.

Mas e a produção de tecnologia? O pensamento crítico? Isso seria para os centros irradiadores da cultura, e não para os locais de montagem. No limite, estamos agindo como se o aluno fosse um jarro vazio, e a medida de produtividade seria como um nível: se este “jarro” atingiu o nível mínimo, continua na linha de montagem, se não, volta para trás. É o princípio da tábula rasa.

Ora, as correntes atuais da pedagogia  não admitem tal atitude do educador. Este tem que considerar as experiências anteriores do estudante, adequar o conteúdo às realidades deste estudante e trabalhar como facilitador do acesso às informações, fazendo com que o estudante descubra por si, valorizando e fixando assim o que foi aprendido. E mais: tem que se ter a preocupação de conectar os conhecimentos, fazendo com que as diferentes disciplinas cursadas sejam, sempre que possível, complementares para uma formação universal do cidadão.

Aliás, deve-se ter mais cuidado com as nomenclaturas, como por exemplo, a palavras aluno, que é derivada do vocábulo latino Alunmini, que significa sem luz. Com efeito, o aluno é visto como um ser sem conhecimentos prévios, sem experiências anteriores que foram, de alguma forma, significativas à sua aprendizagem e professor seria o responsável pela chama do conhecimento, com o poder de conceder, ou não, uma fagulha do saber. É preferível o uso da palavra estudante.

Mas se antes os professores eram respeitados e considerados e hoje não o são mais na mesma medida, então os professores de antes erraram e são culpados pela atual situação? Na realidade, não. O que ocorreu foi uma dinamização muito grande das informações, sem um preparo para podermos lidar com o contato tão íntimo com tantas culturas diferentes, gerando dessa forma um choque de valores e uma conseqüente crise dos valores da nossa sociedade, que só foi agravada pelas questões de desigualdade social e pelo estímulo à competição e concorrência selvagens.

A grande vilã é a Globalização, alguns diriam. Mas é preciso analisar outros pontos. De fato, o processo de Globalização é muito antigo: Marco Pólo, Vasco da Gama, Cristóvão Colombo, James Cook, Adolf Vernhagem, Marechal Rondon seriam símbolos da Globalização, mas num processo que diminuía as distâncias, preservando as especificidades locais.

Com a revolução tecnológica dos últimos 30 anos, o mundo ficou aparentemente ainda menor, com as possibilidades de acesso (às informações e às pessoas) cada vez rápidas, gerando choques, descrédito e frouxidão dos valores culturais e morais das diversas sociedades em favor do American Way of Life, de uma sociedade materialista, individualista, cínica com relação aos seus problemas e arrogante quanto às sua limitações, seguindo a lógica protestante do capitalismo, que pouco ou quase nada tem a ver com o Brasil.

Se quisermos nos firmar, neste século XXI, como potência do mundo, temos que resgatar os nossos valores culturais, étnicos, morais e mesmo religiosos, e incentivarmos uma cultura de valorização dos costumes locais, conscientes da existência do resto do mundo. E trabalharmos para que as diferenças sejam entendidas e respeitadas e não apenas toleradas, como vem ocorrendo ultimamente.

A forma de conseguirmos operar essa transformação é investimos. Não apenas de dinheiro, mas atenção, de tempo, de compromisso com a educação, no sentido amplo, desde a responsabilidade da família até o preparo consciente dos professores.

Abraços!
Prof. Luiz Paulo

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Parcerias Metropolitanas

O difícil exercício da cooperação.

mapa da RM Baixada Santista

As grandes cidades do mundo, depois da Segunda Guerra Mundial, passaram por um processo de aumento populacional como nunca havia ocorrido antes, especialmente as de países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. No Brasil, este processo de urbanização foi o mais acelerado do mundo, a população urbana atingiu 85% do total populacional em 1990, contra 35% seis décadas antes, índice que alguns países mais desenvolvidos da Europa atingiram depois de 250 anos.

Esse inchaço das grandes cidades, sem a construção de infra-estrutura gerou problemas dos mais diversos, como as áreas suburbanas, sem abastecimento de água, sem recolhimento e tratamento de esgoto, sem coleta de lixo, sem abastecimento de energia elétrica, sem escolas ou postos de saúde, sem áreas de convivência (praças, quadras poli esportivas) sem linhas de ônibus em número suficiente para atender essas populações, enfim, alijando-as de uma inserção em conceitos básicos da cidadania.

O inchaço, no limite, e mesmo o crescimento das áreas urbanas geraram áreas conurbadas, ou seja, a ligação entre dois ou mais centros urbanos, não sendo mais possível fazer distinções entre as cidades, pois a malha urbana torna-se contínua. Esta metropolização obrigaria as cidades a modificarem seus procedimentos administrativos, passando a dialogar entre si para resolverem problemas comuns. Mas, no Brasil, em princípio, isso não ocorreu. As 9 regiões metropolitanas criadas entre o fim da década de 1960 e década de 1970 foram determinadas por decreto do Governo Federal, com muito pouca participação dos governos municipais e gerência dos Governos dos Estados.

Como exemplo, temos a Região Metropolitana de São Paulo, que tem na EMPLASA – Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S.A. –, uma empresa estadual, seu órgão gestor. O mais correto seria que as cidades criassem um consórcio Intermunicipal de Gestão Metropolitana, com a participação de todos os órgãos públicos (estaduais e federias), além das empresas estatais e empresas concessionárias de serviços públicos presentes nas cidades.

A segunda região metropolitana a ser criada no estado de São Paulo foi a da Baixada Santista, em 1996, e foi a primeira região metropolitana a compor o ordenamento jurídico proposto pela Constituição Federal de 1988. Seu ordenamento está estruturado em três entidades formais, responsáveis pelas funções deliberativa e normativa, executiva e financeira.

Estas entidades são, respectivamente, o Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista–CONDESB, a Agência Metropolitana da Baixada Santista–AGEM e o Fundo de Desenvolvimento Metropolitano da Baixada Santista- FUNDO.

A principal atribuição do CONDESB é a de especificar os serviços públicos de interesse comum do Estado e dos Municípios da Região Metropolitana da Baixada Santista nos seguintes campos funcionais: planejamento e uso do solo, transporte e sistema viários regionais, habitação, saneamento básico, meio-ambiente, desenvolvimento econômico, e atendimento social, assim como as etapas desses serviços.

Para isso o CONDESB, através da AGEM constituiu várias Câmaras Temáticas, que servem de fóruns de discussão de questões próprias da região, como educação saúde, habitação, metropolização, transportes de passageiros, transportes de cargas marítimas, transportes de cargas rodoviárias, turismo, meio ambiente, planejamento, além do FUNDO – Fundo Metropolitano da Baixada Santista – que investe recursos em áreas que o CONDESB considera essenciais, com execução a cargo da AGEM.

Ou seja, o CONDESB delibera, a AGEM executa tecnicamente e o FUNDO financia as obras.

A EMPLASA então teve uma nova atribuição, o planejamento integrado das Regiões Metropolitanas do Estado, além das funções anteriores na Região Metropolitana de São Paulo.

Com a criação da Região Metropolitana de Campinas, em 2000, a EMPLASA começou a fazer estudos mais ampliados, pois outras áreas circunvizinhas de São Paulo, como São José dos Campos e Sorocaba, que apresentam fortes características de um processo de metropolização, de maneira a formar, junto com Campinas e Santos, uma “Cruz Metropolitana”, tendo na Capital seu ponto de intersecção, o que é o primeiro passo efetivo para a criação de uma verdadeira megalópole (junção de várias metrópoles).

Mas o que se faz necessário é que as cidades se engajem efetivamente no processo metropolitano, especialmente as cidades pólo, como Campinas, Santos, São José dos Campos, São Paulo e Sorocaba, pois seus prefeitos têm um peso político muito grande, e podem conseguir recursos maiores com os Governos do Estado e Federal, não apenas para suas cidades, mas para todas as suas parceiras metropolitanas, pois seus problemas são comuns e interligados, por exemplo, a falta de saneamento básico em uma cidade vizinha acarreta no aumento no uso dos atendimentos nas Unidades Básicas de Saúde dessa cidade e na utilização de leitos hospitalares na cidade pólo, e os recursos para programas de saúde nesta cidade ficam prejudicados, por estar atendendo doentes desta cidade vizinha. Se o prefeito da cidade pólo se empenhar em ajudar a captar recursos para as cidades menores do seu entorno, estará economizando na sua própria rede de saúde, podendo relocar os recursos da área de tratamento para a área de prevenção.

A proporção é bem simples, para cada real gasto em prevenção, saneamento, ligação em redes do esgotos, tratamento dos efluentes, o Poder Público economiza quatro reias em tratamentos. Também deve-se considerar as vantagens em valorização dos imóveis, melhorias nos índices educacionais e de qualidade de vida.

Apesar de parecer óbvio, outros fatores são considerados nesta equação, como a vaidade do prefeito da cidade pólo, as questões partidárias, mas, principalmente, o dinheiro, logo, pode-se observar em uma questão local relativamente simples, a necessidade premente de reformas política e administrativa, no bojo das reformas que se fazem necessárias, como a do judiciário e da previdência.

Deve-se observar que a figura jurídica da região metropolitana não ajuda muito as cidades que fazem parte dela, pois essas regiões acabam sendo como territórios federais de segunda classe, sob a administração parcial dos Estados, enfim, um filho feio, que ninguém quer assumir como seu.

Mas além de tudo isso, o povo, a sociedade organizada, através de sindicatos, ONGs, clubes de serviço, associações comunitárias, de moradores, culturais, religiosas, esportivas devem procurar o máximo das discussões sobre as regiões metropolitanas, mas não em uma posição passiva, esperando convite, mas tomando a iniciativa e persistindo, para que os governantes se convençam do seu interesse e importância e passem a dialogar sem ressalvas, com a sociedade sobre os problemas que afligem a cidade e suas parceiras na região metropolitana.

Abraços.

Prof. Luiz Paulo

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

... E no princípio tudo era verbo.

Só havia escuridão sobre o abismo, e o verbo: FIAT LUX,  e a luz se fez.


Bem, não foi bem assim que eu decidi começar a escrever, mas tenho uma hesitação enorme em cada palavra, justamente por entender o enorme poder do verbo, a força que cada palavra pode ter.

Tomei uma decisão séria: escrever. Mas ainda não tenho muito nítido o tema, o assunto. Então irei falar sobre tudo que me causa estranhamento, tudo que prende minha atenção. Falarei sobre o cotidiano, mas de uma forma muito particular, de um jeito meu, comprometido com a minha experiência e expectativa sobre o mundo.

Completei 30 anos. E isso me traz pensamentos sobre os rumos que a nossa vida toma sem que nós nos demos conta.

Será que somos joguetes do destino? Será tudo arbitrário e sem sentido? Ou será que tudo já está pré-determinado?

Questões que seguramente não são minhas, quer dizer, não sou quem descobriu a pólvora ou a roda, muitos, muito antes de mim, já se questionaram sobre as razões que os faziam ser o que eram.

Filósofos. Fico feliz por poder iniciar essas reflexões depois de saber que tanta gente "quebrou a cuca" tentado ver a razão por traz da nossa existência. Sentimento ambíguo, também sinto frustração, por não conseguir a infantil resposta pronta, o resultado final e racional. Por que eu estou aqui?

Se a razão não me sacia, talvez deva procurar a fé. Ah, a fé... acreditar sem ter provar, crer, sem razão. Não posso falar que desacredito da fé, pois acredito no amor, mas isso, também pode ser manipulado, se utilizarmos os mecanismos químico-neurais apropriados.

Quem ler isso, não espere textos brilhantes, com respostas e prodígios literários. Como disse no começo, isso é, antes de tudo, um exercício de escrita, que se dará com a expressão livre do meu pensamento.
 
Forte abraço.
 
Prof. Luiz Paulo

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Algumas razões

Palavras o vento leva. Já ouvi várias vezes essa expressão, e sempre fui cobrado para registrar, de alguma forma, as minhas opiniões.
Algumas vezes falei para os alunos e professores, outras vezes falei no rádio, escrevi muito para alguns jornais, mas fui pouco publicado.
Minhas opiniões, em alguns casos, polêmicas, sempre fomentaram discussões, o que vejo com bons olhos, pois acredito que os bons professores geram muito mais perguntas do que respostas.
Mas agora, meus comentários não estão restritos a algumas salas de aula, devido as participações no rádio e na televisão, tenho sido abordado na rua, por pessoas que eu não conheço, mas que reconhecem a minha voz ou o meu rosto e criticam ou parabenizam pelos meus comentários.
Isso cria uma responsabilidade, a de embasar minhas opiniões com bons argumentos, e também de registra-las de alguma forma.
Meus amigos e alunos sugeriram a criação de um blog, veículo ágil da vida "on line" atual e assim, inicio hoje um compromisso, comigo e com todos aqueles que de alguma maneira participam do meu cotidiano.
Os assuntos abordados serão os mais diversos, temas que, preocupando,  motivando, incomodando, servirão de base para ideias e sugestões que antes eram dadas e esquecidas, mas que agora, com essa ferramenta ficarão guardadas.
Assim, crio também uma forma de disciplinar minha escrita, tornando-me mais claro e menos prolixo.
Lembro do começo do poema "Profissão de Fé" de Olavo Bilac: "Invejo o ourives quando escrevo: Imito o amor; Com que ele, em ouro, o alto-relevo; Faz de uma flor." Não quero me comparar, nem ao Príncipe dos Poetas, nem a um ourives, mas que buscarei o aprimoramento nesse campo, tenha certeza disso!
Conto com o apoio de todos nessa aventura que é escrever.

Abraços!
Prof. Luiz Paulo