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“As ações criminosas estão cada vez mais violentas e cruéis” – comentou um
professor à um grupo colegas na sala dos professores, face a mais um crime
hediondo que foi noticiado. Um desses colegas continuou: - “Isso é pouco, as
elites abusaram e exploraram os pobres até que eles reagissem assim.” Alguns
ignoraram, alienados por uma jornada absurdamente extenuante, uns poucos,
particularmente, ficaram bastante desapontados com aquele colega professor, que
certamente reproduz essa opinião aos seus alunos, dando uma justificativa ao
injustificável. Arrastar uma criança no asfalto porque ela ficou presa no cinto
de segurança após um assalto por mais de três quilômetros, atear fogo à
dentistas porque eles não tinham dinheiro ou atirar em quem não reage à um
assalto não é exatamente uma ruptura do status
quo das classes sociais, é barbárie.
Se
antes, essa postura de vitimizar o bandido era um discurso de alguns
ultra-esquerdistas nos meandros das Academias, que buscavam sempre o lugar comum
da exploração do proletariado pela burguesia, às raízes escravistas e
latifundiárias do nosso período colonial, hoje é um discurso oficial, uma política
pública, uma prática do Estado.
O
assistencialismo tornou-se regra, gerando dependência e acomodação. Não existem
contrapartidas, cobrança por deveres, apenas direitos. O “nóis tem direito” virou um mantra da plebe ignara, intercalado com alguns “o governo tem que dá”. Ora, quem recebe, sem ter feito por merecer,
não dá valor à isso. O mérito tornou algo dispensável, e você nem precisa ser
um “companheiro”, basta fazer parte do bloco da situação, que você será “aproveitado”
para algum cargo, alguma função. Basta olhar os currículos dos vários ministros
e secretários nacionais: poucos têm perfil técnico, ou mesmo formação mínima
para o bom exercício em suas pastas.
Mas
esse abismo entre exigir seus direitos e querer cumprir seus deveres não surgiu
da noite para o dia, foi o resultado de uma erosão, lenta, gradual e contínua
nas exigências e regras que estavam estabelecidas às crianças e jovens. Com o
dedo em riste de alguns psicólogos, que afirmavam que a forma de criação e
educação era a causadora de traumas e neuras, os nossos congressistas aprovaram
uma Lei extremamente leniente, e, por vezes, inócua, com os maus-feitos, com os
abusos e com os possíveis crimes feitos por esses jovens. Aliás, criança ou
jovem não comete crimes, comete “Atos Infracionais”. Então, uma pessoa que
morreu alvejada por um jovem menor de 18 anos, não é assassinada, é
“ato-infracionalizada seguida de morte”, ou então uma mulher, que é espancada e
forçada a fazer sexo com um menor de 18 anos, não é estuprada, é
ato-infracionalizada sexualmente.
Esse
imenso destemor, essa absoluta certeza na impunidade preenchem esse abismo
entre os direitos e as obrigações, que fica cada vez maior, erodido pelos
efeitos e práticas do Estatuto da Criança e do Adolescente. Esses jovens
menores de 18 anos que estão praticando esses crimes bárbaros, ou, como está no
ECA, esses atos infracionais bárbaros, são frutos dessa Lei.
E se
essas crianças e jovens não são cobrados de seus deveres e nem sofrem
consequências por seus erros, como deverá funcionar o local que deve
prepara-los para a vida adulta, para a prática da cidadania? As escolas estão
isoladas, abandonadas pelo poder público, que gasta mal os recursos destinados
à educação, pelos pais, que, cada vez mais se isentam de responsabilidades, e
pela sociedade, anestesiada por Bolsas e Auxílios que os reduzem à parasitas do
Erário, à massa de manobra, daqueles mesmos que redigiram e aprovaram o
Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em
fevereiro de 2014 teremos, em Brasília, a realização da II Conferência Nacional
de Educação. Entre maio e junho deste ano, realizaram-se Conferências Livres e
Conferências Regionais preparatórias às Conferências Estaduais. O Ministério da
Educação elaborou um documento-referência com sete eixos temáticos, como forma
de subsidiar as discussões e propostas elaboradas nessas fases preliminares à
II CONAE. Em nenhum momento, em nenhum dos sete eixos temáticos de discussão, o
documento-referência para a Conferência Nacional de Educação, estimula,
recomenda, sugere, institui ou mesmo cita sobre o protagonismo juvenil,
estímulo à autonomia ou ao empreendedorismo. Bastante emblemático, e reforçou o
entendimento sobre a intenção de manutenção dessa massa dependente de bolsas e
auxílios, acomodada e altamente manipulável.
Por
enquanto, a classe média vem suportando os ataques provenientes de várias
frentes: acharcada por impostos e taxas que sustentam as bolsas e auxílios usados
como entorpecentes às massas; vítima preferencial de crimes violentos,
praticados por uma massa de jovens com sérias deformidades de caráter, criados
sob a proteção do ECA e; acusada pelos ultra-esquerdistas, agora infiltrados em
todos os níveis de Governo, de promover a luta de classes, por não querer
entrar na onda assistencialista, por preferir estudar, trabalhar e conquistar
uma vida melhor por seus méritos, sem as benesses ou favores do Estado.
Há,
no limite, um acordo tácito entre a massa e os atuais mandatários. O povão fica
satisfeito com as migalhas, pois tem a impressão que “estão ganhando na moleza”
um “dinheirinho” e assim, votam nesses governantes, tolerando suas práticas
corruptas, os superfaturamentos e desvios de verbas, pois, no fundo, se fossem
com eles, também se locupletariam. No pensamento simplório dessa massa, são perceptíveis
grandes falhas morais e éticas. Parece ser um círculo vicioso, bastante difícil
de quebrar.
Portanto,
não tenhamos ilusões com a projeção do nosso país, como “Emergente”. Isso se dá
não pelo desenvolvimento ou melhoria nos fundamentos de nossa economia, e sim
pela decadência ou desgaste observados nas economias dos outros países. Não
temos planejamento, investimentos estruturais, debates e discussões com o rigor
necessário, se temos boas iniciativas, falta-nos a “acabativa”, o Congresso
Nacional, as Assembleias e as Câmaras são subservientes aos chefes dos
executivos, pois querem que suas emendas e projetos tenham recursos liberados e
que seus apadrinhados sejam nomeados à algum cargo, enfim, não somos um país
sério. Continuaremos, pelo menos, nos próximos 50 anos, como um país reprodutor
de tecnologia, corrupto, violento e sem políticas efetivas de combate à pobreza,
se não houver profundas mudanças, não apenas nas nossas leis, mas,
principalmente, na nossa postura como cidadãos, que sabem fiscalizar e cobrar
e, sempre quando necessário, mudar os governantes inaptos.